domingo, 30 de novembro de 2008

Sinais

Estávamos comentando sobre o que tem acontecido em Santa Catarina. É impressionando como alguns eventos colocam as pessoas no mesmo "nível".
Comentei que um vendedor da minha empresa que mora em Itajaí estava fornecendo água de sua piscina para seus vizinhos tomarem banho...Imagina quem não tem nem a piscina no vizinho.
Nossa discussão foi sobre como situações como essa nos mostram que somos "70% água e o resto é resto", ou seja, todo mundo é igual com 36,5 graus Celsius de temperatura interna se você não estiver com febre.
Luz, água e comida pra ninguém. Não adianta você morar em cobertura de prédio nenhum. Nem ter o carro importado mais bacana e chuveiro a gás. Numa situação dessas, você não tem como nem por que sair de casa, nem como tirar o seu carro importado da garagem, nem água pra tomar banho quentinho.
Isso me fez lembrar o "Ensaio sobre a cegueira", quando li pela primeira vez. A comparação com o caso de Santa Catarina e tantos outros que tem acontecido no mundo está justamente na semelhança entre as pessoas (sua essência) apesar das diferenças.
Às vezes fico pensando que todos esses eventos que vêm acontecendo no mundo são um "prestenção" para a humanidade. Para mostrar o que realmente tem valor na vida. As "chamadas" passaram a ser coletivas agora.
O ser humano tem que começar a perceber os sinais.

6 comentários:

Flavio Ferrari disse...

Se serviu para você pensar no assunto, já foi bom.
Mas não espere que as coisas mudem por lá ou em qualquer outro lugar.
Não é pessimismo. É realismo.
Só aprende que está pronto.

Fernanda disse...

Você está certíssimo! E não acho pessimismo não. Compartilho da mesma opinião...É que as vezes a gente tem que dizer as coisas de um outro modo. Cada um tem uma forma e um momento para aprender as coisas. Acho que você me entende...

Fernanda disse...

Sempre penso sobre isso, em todas as situações da vida. Achei muito legal ter encontrado pessoas que pensassem o mesmo. Sintonia fina realmente é o máximo...

Flavio Ferrari disse...

"Desaprender é muito mais difícil do que aprender." (FF)

Flavio Ferrari disse...

Cotucocú Cuntaquara


A figura do Pajé é onipresente nas tribos indígenas brasileiras.
Uma mistura bem dosada de Líder Espiritual, Mago-Cientista, Médico e Psicólogo, o Pajé costuma ser o principal responsável pela gestão do conhecimento e o desenvolvimento de pessoas na comunidade.
Uma das principais atribuições do Pajé é gerar o desconforto intelectual, tão necessário para a evolução da mente humana.
Talvez o mais famoso Pajé da história brasileira tenha sido Cutucocú Cuntaquara.
Seu nome, que em tupi-guarani significaria, justamente, “aquele que nos causa desconforto íntimo”, traduz o brilhantismo de sua atuação;
Cotucocú era o tipo da pessoa que, quando lhe desejavam um bom dia, perguntava por quê.
Quando alguém estava triste, questionava suas razões até minimizá-las diante dos mistérios da vida.
A quem vinha partilhar sua felicidade, desnudava sua leviandade.
Tinha explicações complexas para tudo, que eram prontamente substituídas por outras igualmente complexas quando alguém conseguia entender a anterior.
Mas também era capaz de simplificar tudo, sempre que se tentava complicar o caso.
Exercia sobre todos uma influência desconcertante, pela projeção inconsciente do temor do auto conhecimento.
Mas não pensem os senhores que Cuntaquara o fazia por sadismo ou narcisismo (embora o sorriso irônico deixasse antever algum prazer).
Ele não havia desejado ser Pajé. Sua curiosidade incontrolável e obsessão crítica não lhe deixaram outra alternativa.
Não via outro sentido na vida senão o de questioná-la.
Mas a cultura indígena é sábia, e a pajelança existia para isso mesmo, ou seja, para acomodar e direcionar, de forma produtiva para a tribo, as agruras de uma alma atormentada pelo inconformismo.
A sociedade moderna, superficial e cosmética, não tem mais espaço para Pajés da estirpe de Cutucucú.
O entretenimento ocupou o espaço da introspecção. O encontro com o outro é mais importante do que o consigo mesmo.
E o pragmatismo pilatinao (ou poncês, se preferirem) que grassa é de fazer lavar as mãos em lágrimas desde o tempo de Cristo.
Com isso, crescemos menos, e trocamos a vida por uma busca hedonista, infrutífera porque quimérica.
Por isso, meus amigos, quando encontrarem alguém como Cutucucú, não reclamem ... aproveitem.Sair da zona de conforto por alguns momentos pode fazer bem.

(postagem antiga do Arguta)

Fernanda disse...

Sensacional.
Adoro ser meu próprio Cotucocu.