domingo, 5 de outubro de 2008

O gênio

Fui a uma mostra de Machado de Assis ontem no Museu da Língua Portuguesa. Cada vez que entendo mais sobre esse cara, fico mais fã. A maneira como ele despe o ser humano é sensacional. "Memória Póstumas de Brás Cubas" é um dos meus prediletos. Gosto de livros em que você perde tempo pensando e adaptando cada frase à vida real. Machado é assim: cada vez que você lê, descobre algo novo, que te impressiona de uma forma diferente de como te impressionou na última vez. Era um gênio. Leia a biografia e um trecho das "Memórias..": http://www.machadodeassis.org.br/ "Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirto que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo. Porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! Como a gente pode sacudir fora a capa, deitar ao fosso as lantejoulas, despregar-se, despintar-se, desafeitar- se, confessar lisamente o que foi e o que deixou de ser! Porque, em suma, já não há vizinhos, nem amigos, nem inimigos, nem conhecidos, nem estranhos: não há platéia. O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se não estenda para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados."

Um comentário:

Raul Lara Resende de Carneiro disse...

Realmente é um dos maiores escritores!

Pessoalmente, acho fantástico o conto Idéias do Canário!

Abcs, Raul
http://www.sovacodcobra.blogspot.com